04 fevereiro, 2011

É um faz-de-conta


A eleição realizada em Campo Maior no domingo passado longe de ser considerada como símbolo da democracia passa à história como momento especial para exacerbação das paixões, descontados os episódios naturalmente localizados em datas como essa em que estão envolvidos muitos interesses dos grupos locais.
A eleição mesmo, no Brasil, não pode ser considerada como espetáculo democrático à maneira como é realizada: inversão de valores em que o capital termina prevalecendo. Ao final do pleito, teoricamente com oportunidades iguais, percebe-se que aqueles que não dispuseram de recursos para tocar a campanha não são bem-sucedidos.
A seguir, entram em campo os processos de cassação de mandatos mediante ações de impugnação patrocinadas pelo lado perdedor que, na maioria das vezes, vai alegar uso de poder econômico eleitoral na conquista de eleitores no curso da campanha relativa ao pleito.
Nesse momento o Piauí vai alinhando uma contabilidade bastante expressiva desses processos em que os eleitos perderam os mandatos e a Justiça Eleitoral tratou de marcar eleições suplementares.
Tudo ocorre numa sequência de eventos perfeitamente normais, desde a campanha até a realização do pleito e proclamação do eleito. Contudo, não se tem notícia de um só ato público dos novos eleitos que justifique sua ascensão ao poder.
Ao que parece os vitoriosos em eleições suplementares encerram seu compromisso com o povo no exato momento em que são fechados os resultados do pleito. Ocorre então a sequência de compromissos assumidos pelo novo prefeito e todos, quase sem exceção, passam longe dos interesses do povo.
Depois da eleição seguem-se as apurações de irregularidades administrativas. Os prefeitos, em renovadas ocasiões, são presos em grandes operações de nomes sugestivos. São conduzidos às delegacias policiais, elaboradas informações sobre o evento, os detidos escondem-se debaixo de toalhas, casacos e camisetas e depois são liberados. Na boa, como dizem.
A questão a discutir é a seguinte: perdeu a eleição sua eficácia na escolha do candidato ideal, honesto, comprometido com o povo ou trata-se apenas de um caro, custoso jogo de faz-de-conta? Não custa perguntar.
Basta ver a maneira como os advogados dessa gente se comportam na defesa de seus constituintes: nos seus discursos, quase sempre carregados com alta dose de emoção faturada fala-se em muita coisa sem que nenhum se disponha a destacar conduta ética e comportamento cidadão desses presos.
O discurso corre sob a retórica do improviso. Os absurdos estão exibidos nas denuncias formuladas, no material apreendido, no flagrante das contradições. Contudo, estão ali os zelosos profissionais a dourar a pílula do suspeito de prevaricação, elaborando teses de enaltecimento do caráter do prefeito corrupto contra todas as evidências das provas.
É importante acompanhar o desenvolvimento das cidades administradas pelos prefeitos recentemente presos pela Polícia Federal. Até agora, pelo que apresentou a televisão, a situação desses municípios é de causar pena.
Leve-se em conta, por exemplo, o caso de Uruçui, no Sul do Piauí, já considerada como uma das cidades brasileiras de maior crescimento de ICMS (Imposto de Circulação de Mercadoria e Serviços) através do qual é possível quantificar o volume de recursos que entram nos cofres municipais gerados na própria cidade.
Está lá Uruçuí servindo de exemplo. Mas, o povo da cidade não tem nenhum tipo de benefício, nem recebe por conta da riqueza da terra nenhum serviço a mais. Ao contrário, a saúde não funciona porque não conta com médico e a escola das crianças localiza-se em pardieiros destinados à criação de cabras e bodes.

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