Rigores da irresponsabilidade
A incidência de acidentes nas estradas brasileiras, as ocorrências policiais, as brigas, os desvios de recursos públicos para outras finalidades, a degradação da moral e dos bons costumes revela que o carnaval é uma festa pagã com inevitáveis danos à sociedade, mesmo levando em conta os ganhos que a data promove na atração de turistas e desenvolvimento de atividades comerciais.
Entretanto, o carnaval tem servido para escancarar deficiências de muitos setores em todo o País desde a vergonhosa situação da malha rodoviária, o abuso de motoristas, a ineficácia dos órgãos de segurança no controle das estradas brasileiras.
Do Piauí ao Rio Grande do Sul o que se vê é o noticiário dos horrores, porque a mídia se encarrega de pintar um cenário de horrores em tudo pulsando a exacerbação, o exagero, o externar de emoções sem precedentes: ora é o empregado que mata a filha do patrão, ora é o marido que se mata ao se ver recusado pela ex-mulher, ora é um grupo de cidadãos embriagados que morre na estrada em plena vigência do chamado reinado de momo.
Assim, o prefeito que se esmera na elaboração de festas estrondosas, que contrata mídia inescrupulosa para multiplicar a dimensão de tais eventos, desconhece que sua missão não se resume aos quatros dias do carnaval. Mas seu envolvimento pessoal e o entusiasmo do seu séquito de bajuladores são tão envolventes que terminam levando a cidade toda ao devaneio irresponsável, que compromete toda a sociedade.
Na manhã de quarta-feira (9), o balanço da Polícia Rodoviária Federal ainda não estava concluído, mas o número de mortos já superava o do ano passado. Ao todo, 166 pessoas morreram em acidentes de sexta-feira (4) até terça, contra 143 nos seis dias de carnaval em 2010. O número de vítimas fatais já é 16% maior.
A divulgação de dados estatísticos, porquanto ineficazes para combate de suas causas, serve apenas como adorno macabro para este período em que definitivamente os horrores da irresponsabilidade extrapolam seus limites em todos os pontos do Brasil.
Texto: Chico Viana
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